Relaçao Sozinho(Caetano Veloso) e o Barroco

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O Barroco é um estilo literario que se caracteria pelo rebuscamento das palavras, e pela divisao que o homem enfrenta, basicamente. Ou seja, o homem barroco é confuso, pois acabava de sair de uma época em que o homem era o centro de tudo, para uma outra onde o teocentrismo é que imperava.

Na música Sozinho aparece varias perguntas que demonstra que ele está confuso, e tambem está meio "desligado" do mundo pensando no passado, presente e futuro. Se sentindo sozinho sem alguem do lado dele, primeiro ele quer ela do lado dele e depois quer que ela suma.
Nao quer mandar nela mas quer ela um pouco perto dele, tem duvida se ela gosta mesmo dele ou está enganando ele. Ou seja vive com essa duvida do sim ou nao, ama ou nao ama e termina a música com duvida. Demonstra estar muito duvidoso se quer ou nao sua amada perto dele, se a ama ou nao, e mesmo ela tendo deixado ele sozinho, ele ainda ama ela incondicionalmente.

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Relaçao Queixa(Caetano Veloso) e o Classicismo

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Classicismo: Refere-se, geralmente à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os classicistas pretendem imitar. Ao classicismo opõe-se o Romantismo

Na música Queixa aparece palavras romanticas como: Amor, Princesa e Alegria.
Mas com essas palavras aperecem oposiçoes:Desnatureza, Desprezo, arrasou, envenenou, serpente, amor violento, mágoa, avesso de sentimento, desejos de vingança, sem esperança, pecado, que sao o contrário do romantismo como é o Classicismo.

Ele diz sobre o amor que alguem despertou nele e depois desprezou, que ele nao é o unico culpado por esse amor, que ela envenenou ele e nem sentiu e agora ele está perdido, aquele amor sem sentimento virou mágoa um desejo de vingança, a desnatureza bate forte contra a dureza da mulher que ele gosta, ele deu o amor dele apostando na sorte e ela rejeitou, se comparando ate um pecado. Ela deixou um vazio nele e ele quer gritar pra que ela saiba e agora quer saber pra onde ele vai. Mesmo ela tendo deixado ele, ele continua amando ela ate chamando de princesa idolatrando ela.

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Abordagem discursiva do texto "Gigolô das palavras"

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RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar o conflito entre o discurso conservador (gramaticalista) e o discurso liberal, assim como a construção da ironia na crônica “O gigolô das palavras” de Luiz Fernando Veríssimo.


Palavras-chave: Discurso; Conflito; Ironia.

Palavras iniciais
A Análise do Discurso (AD) reconhece o texto como o lugar do trabalho com a
linguagem e de funcionamento da discursividade, dessa forma, não o tem como objeto final
de sua explicação. A tarefa do analista é descrever como funciona o texto, considerando o
seu caráter lingüístico-histórico, trabalhando a opacidade do mesmo e desvendando o
mecanismo dos processos de significação, que regem a textualização do discurso.

O objetivo deste trabalho é analisar a crônica “O gigolô das palavras” de Luiz
Fernando Veríssimo, identificando alguns aspectos como o conflito entre o discurso
conservador, gramaticalista e o discurso “liberal”, que questionava o ensino de língua
materna como sendo o ensino da gramática da língua.

"O conceito de formação discursiva é utilizado pela AD para designar o lugar
onde se articulam discurso e ideologia” (Mussalim, 2001, p. 125). O discurso, portanto, está
longe de ser produto de um sujeito específico, pois traz em si a ideologia da formação
discursiva que o originou.
Através da análise das marcas lingüísticas e dos implícitos de um texto pode-se
identificar a formação discursiva à qual se vincula.
Na crônica em análise pode-se perceber que o autor expõe e opõe duas questões
anteriormente já citadas, o discurso conservador e o liberal em relação ao ensino da
gramática. Isso se torna evidente logo no primeiro parágrafo, quando o locutor explicita
qual a “missão” daquele grupo de estudantes do Colégio Farroupilha em sua casa. O
professor de português os enviara para saber se ele, o locutor, considerava o estudo da
gramática indispensável para aprender e usar nossa ou qualquer outra língua.
Opondo-se a esse discurso, a resposta que é dada aos alunos é apresentada no
segundo parágrafo: “Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de
comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras
básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis.
A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não
necessariamente certo”.

Naquele momento histórico, o texto de Veríssimo foi considerado uma
verdadeira afronta à língua portuguesa e sofreu sérias críticas por parte do grupo mais
conservador de estudiosos da língua, no Brasil. A crítica irreverente à escola tradicional e à
visão gramaticista vigente do ensino de língua materna encontrou apoio, porém, daqueles
estudiosos mais liberais, que já reconheciam a necessidade de mudanças no modelo de
ensino do Português, o qual vinha se mostrando ineficaz já de longa data.
É bom lembrar que somente em 1998, mais de dez anos após a publicação da
crônica, ocorreu o lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN, os quais
representam um grande avanço em relação ao ensino de língua materna nas escolas.
No texto de Veríssimo, a oposição entre o pensamento tradicionalista
(gramaticalista) e o liberal é ressaltada com muito humor, quando o locutor critica a atitude
de “patrulhamento”, exercida pelos ditos “puristas” da língua, dizendo que suspeitava que o
professor lia sua coluna e se “descabelava” com as suas afrontas às leis da língua. O locutor
imagina a defesa que faria do seu trabalho, utilizando-se para isso do jargão jornalístico:
“Culpa da revisão! Culpa da revisão”.
No final do terceiro parágrafo o sujeito locutor mais uma vez expõe a sua
indiferença em relação aos aspectos formais da língua, construindo metaforicamente o seu
discurso: “Não me meto na sua vida particular [das palavras]. Não me interessa seu
passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com ela.”
Conhecer a vida particular, o passado, as origens e as famílias das palavras são
aspectos da Gramática Descritiva, da Gramática Histórica, da Etimologia e da Lexicologia
que na visão do locutor não interessam a um escritor: “... a intimidade com a Gramática é
tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na
matéria”.
O texto, portanto, revela, através do discurso do personagem narrador, o
conflito entre duas formações discursivas, e demonstra que se pode perceber sempre, numa
formação discursiva, a presença do outro e a heterogeneidade do discurso. O autor se
conduz de tal forma na construção do personagem narrador, que este, ora expõe através de
sua enunciação uma formação, ora outra, no espaço interdiscursivo.
A heterogeneidade constitutiva do discurso é abordada por Mussalim (2001)
como um estudo decorrente do dialogismo do círculo de Bakhtin, o qual não tem como
preocupação central o diálogo face a face, mas sim a dialogização interna do discurso, que
se instaura numa perspectiva plurivalente de sentidos. A partir do conceito de dialogismo
bakhtiniano é que se estrutura a definição de heterogeneidade constitutiva do discurso, a
qual assinala a presença do outro na superfície discursiva.

A irônia

No primeiro parágrafo da crônica, o sujeito narrador utiliza-se daquilo que
Charaudeau chama de estratégia de credibilidade, ou seja, determina uma posição de
verdade, de maneira que ele possa ser levado a sério. A credibilidade vai sendo construída
pelo uso de expressões literais como: “Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do
Farroupilha estiveram lá em casa, numa mesma missão...”
A partir do segundo parágrafo, o sujeito locutor constrói uma argumentação
representativa da formação discursiva que não vê utilidade no ensino da gramática em sala
de aula. Através da frase: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”, o
locutor justifica a assertiva feita anteriormente: “A sintaxe é uma questão de uso, não de
princípios”. Ao utilizar o adjetivo claro modificando o verbo em vez de utilizar o advérbio
(claramente), como estaria ao gosto dos gramáticos, o autor quer demonstrar que conseguiu
se comunicar, apesar de não ter feito uso “correto” da norma gramatical.
A estratégia de sedução que o sujeito locutor utiliza inicia-se com a assertiva:
“O importante é comunicar”, logo após elabora metaforicamente a idéia do fazer literário
como algo que surpreende, ilumina, diverte e comove.
O final do segundo parágrafo é marcado por uma ironia mordaz. A estratégia de
convencimento se faz com o autor relacionando as razões para não se ensinar gramática e
associando-a à morte da língua. Utiliza-se para isso das seguintes expressões: “A
gramática é o esqueleto da língua”, “línguas mortas”, “necrólogos”, “gente pouco
comunicativa”, “sombria gravidade”, “reprovação pelo Português ainda estar vivo”,
“morra”, “caixão”, “autópsia”, “as múmias conversam entre si em gramática pura”.
Nos dois últimos parágrafos, o autor dá o tom irônico ao se apropriar do
discurso machista que se inicia com a frase: “Sou um gigolô das palavras”. O sujeito
locutor constitui seu discurso por analogia à relação do cafetão com a prostituta. Utiliza-se
de expressões que revelam sua intimidade e liberdade no trabalho com a palavra: “Um
escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse por seu plantel. Acabaria tratando-as
com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra
seria a sua patroa.”
Há uma sintaxe discursiva implícita na seqüência de frases: “vivo às suas
custas”; “abuso delas”; “exijo submissão”; “maltrato-as sem dúvida”; “são
faladíssimas”; “algumas são de baixíssimo calão”; “não merecem o mínimo respeito” e
“A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda”. O autor
recorre a um discurso que não é o seu, trazendo para um contexto novo as frases acima
citadas, estas assumem uma ambigüidade característica da ironia.
A ironia é “um dos meios dos quais dispõe a argumentação
para expor as afirmações e teses que deseja sustentar”. No discurso escrito, o escritor faz
uso de estratégias para construir a ironia como, por exemplo, utiliza-se de:
“ palavras que não são ‘suas’ ou que toma ‘emprestado’ de
outras vozes, de outro discursos e de outras situações de
comunicação.[...] as palavras do ‘outro’, usadas em novos
contextos e por outros locutores, assumem uma caráter
duplo, [...] e será usado para subverter o significado
primeiro das palavras do ‘outro’.

Finalização

Como vimos, a finalidade da análise não é descrever nem interpretar, mas
compreender como o texto produz sentidos através de seus mecanismos de funcionamento.
Na crônica analisada, o humorista exprime sua insatisfação com uma visão
tradicional (gramaticalista) da língua e se insurge contra o conservadorismo das escolas e
suas práticas de ensino.
Luiz Fernando Veríssimo, no texto “O gigolô das palavras”, revelou todo o
seu humor cáustico construído através da ironia e da irreverência, levando o leitor a refletir
sobre o tema sério e polêmico que é o ensino de língua materna no Brasil.

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O Gigolô das palavras - Luís Fernando Veríssimo

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Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

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Escola Literária

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A nominação escola literária se marca pela controvérsia. Há pelo menos três possibilidades de entendê-la. Para os historiadores da literatura, em geral significa agrupamento de autores que se relacionam por aproximação estilística e ideológica e até de atitudes diante de concepções artísticas. Nesse sentido, fica claro o centramento da análise no autor e não no texto. Para os que fixam a observação sobre o conjunto estético-estilístico das obras, escola literária é concepção estética e técnica. Em conseqüência, nesse sentido, a escola representa o agrupamento de autores e de textos. Na tentativa de contemplar na nominação as aproximações intertextuais e interdiscursivas, a escola é também entendida como conjunto de textos que se aproximam em virtude de certa identificação ideológica básica com determinado texto prógono. Os textos prógonos se qualificam por sua vez como prógonos na presença dos epígonos. Os textos prógonos servem de espinha dorsal aos conjuntos. Do ponto de vista crítico, geralmente os prógonos funcionam como parametrais. A par disso tudo, há quem propugne a idéia da inexistência de escolas.
Por essas razões é que se ouve falar em escola brasileira, no âmbito da língua portuguesa; em escola romântica, realista, naçional ou internacionamente; em escola camoniana, cervantina, alencariana, borgeana etc. Assim se alargam desmesuradamente as noções, e os conceitos precisam ser delineados com bastante cuidado particular para cada caso.
Usam-se como sucedâneos de escola literária outras formas, como estilo de época, período e corrente. Não lhe são, contudo, claramente sinônimas. Estilo de época remete a registros estilísticos e técnicos diversificados dentro do grupo escolar, mas que, pela razão de escola, mantém o mesmo (ou parcialmente o mesmo) núcleo ideológico. O período assinala antes de tudo o registro cronológico, limitado arbitrariamente por edições de obras consideradas prógonas ou, pelo menos, muito representativas de cada estilo, com marca de antecedência cronológica com relação a outras que a seguem. Não fica o período, portanto, externo a considerações que fundamentam as escolas e os estilos de época. A concepção de corrente não se distingue claramente das demais, a considerar o que se tem escrito a respeito.
Estilos de época, como aqui considerados, são, p. ex., o naturalismo e o parnasianismo dentro do realismo e os próprios textos realistas, considerado o conjunto do Realismo. É-o também o ultra-romantismo, dentro da escola romântica etc. A concepção de período já é de natureza distinta da literatura propriamente dita, porque privilegia o aspeto histórico propriamente dito. No Brasil, contudo, o que se denomina pré-modernismo foi um momento eclético, de busca e definição, que não discrepa muito, sob a ótica da periodização literária brasileira, da noção de período. Nele faltam elementos caraterizadores essenciais das escolas e dos estilos de época, como certa unidade ideológica e tendências de estilo mais ou menos centradas. As correntes, que estariam vinculadas nuclearmente a posicionamentos ideológicos, poderiam fazer conecções textuais entre períodos. Assim, p. ex., poder-se-ia falar em corrente idealista e corrente realista, que podem ser encontradas em vários momentos da história literária. Via de regra, no entanto, não é essa concepção que se lê sobre elas.
A distinção mais significativa e sutil entre textos ou conjuntos textuais literários é construída na conjunção íntima entre posicionamento ideológico e elaboração textual do discurso (a relação discurso-linguagem), definida por predominância.
Parece que o grande problema da nomenclatura escolar literária, do ponto de vista crítico-teórico, é que os conceitos que geralmente são construídos para enunciá-la fixam a escolaridade nos autores e não nas obras. Quando essa classificação for necessária por qualquer motivo que seja, a fixação crítico-teórica deve ser feita sobre os textos. Isso evita a fragilidade da concepção do autor como escola e afasta a reflexão crítica dos princípios da crítica biográfica.

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Resumo do filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin

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O filme conta a história de um operário e uma jovem. O primeiro (Charles Chaplin) é um operário empregado de uma grande fábrica. Esse operário desempenha o trabalho repetitivo de apertar parafusos. De tanto apertar parafusos, o rapaz tem problemas de stress e, estafado, perde a razão de tal forma que pensa que deve apertar tudo o que se parece com parafusos, como os botões de uma blusa, por exemplo. Ele é despedido e , logo em seguida, internado em um hospital. Após ficar algum tempo internado, sai de lá recuperado, mas com a eterna ameaça de estafa que a vida moderna impõe: a correria diária, a poluição sonora, as confusões entre as pessoas, os congestionamentos, as multidões nas ruas, o desemprego, a fome, a miséria... Logo que sai do hospital, se depara com a fábrica fechada. Ao passar pela rua, nota um pano vermelho caindo de um caminhão. Ao empunhar o pano na tentativa de devolvê-lo ao motorista do caminhão, atrai um grupo enorme de manifestantes que passava por ali. Por engano, a polícia o prende como líder comunista, simplesmente pelo fato de ele estar agitando um pano vermelho, parecido com uma bandeira, em frente a uma manifestação. Após passar um tempo preso, o operário é solto pela polícia por agradecimento, uma vez que ajudou na prisão de um traficante de cocaína que tentava fugir da prisão. Nesse momento, surge a outra personagem do filme, "a moça – uma menina do cais que se recusa a passar fome". A jovem (Paulette Goddard), vivendo na miséria, tem de roubar alimentos para comer, pois, além disso, mora com as suas duas irmãs menores, seu pai está desempregado e as três são órfãs de mãe. O pai morre durante uma manifestação de desempregados e as duas pequenas são internadas em um orfanato. A moça foge para não ser internada e volta a roubar comida. Numa de suas investidas, ela conhece o operário: depois de roubar o pão de uma senhora, a polícia vai prendê-la e o operário assume a autoria do assalto. A polícia o prende , mas o solta em seguida após descobrir o engano. Quando vê a moça sendo presa, o operário arma um esquema para ser preso também: rouba comida em um restaurante. São colocados no mesmo camburão e, durante um acidente com o carro, os dois fogem e vão morar juntos. O operário, nosso querido Carlitos, procura emprego e consegue um como segurança em uma loja de departamentos. Logo é despedido por não ter conseguido evitar um assalto e por dormir no serviço. No entanto, consegue emprego numa outra fábrica, consertando máquinas. Durante uma greve na fábrica, Carlitos é preso mais uma vez, agora por "desacato à autoridade policial". Alguns dias depois, ele é liberado e a jovem o espera na saída da prisão para levá-lo a nova casa – um barraco de madeira perto de um lago. A jovem consegue, então, emprego em um café com dançarina e arruma outro para Carlitos, só que como garçom/ cantor. Os dois são um sucesso, principalmente Carlitos que, durante uma improvisação de uma música, arranca milhares de aplausos dos presentes ao café. Para estragar a festa, no entanto, surge novamente a polícia, desta vez com uma caderneta com os dados da moça e uma ordem para prender a jovem num orfanato. Carlitos e moça fogem e terão de começar tudo novamente...

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Biografia de Charles Chaplin

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Sir Charles “Charlie” Spencer Chaplin foi o mais famoso ator dos primeiros momentos do cinema hollywoodiano, e posteriormente um notável diretor. No Brasil é também conhecido como Carlitos (equivalente a Charlie), nome de um dos seus personagens mais conhecidos. Chaplin foi uma das personalidades mais criativas da era do cinema mudo; ele atuou, dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente financiou seus próprios filmes. Chaplin, cujo quociente de inteligência era de 140, foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão americano Samuel Reshevsky. Nasceu em Walworth, Londres, dos pais Sr. Charles e Hannah Harriette Hill, ambos animadores do Music Hall.Seu principal personagem foi O Vagabundo (The Tramp): um andarilho pobretão com as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro, vestindo um casaco firme e esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e sua marca pessoal, um pequeno bigode.Chaplin iniciou sua carreira como mímico, fazendo excursões para apresentar sua arte. Em 1913, durante uma de suas viagens pelo mundo, este grande ator conheceu o cineasta Mack Sennett, em Nova York, que o contratou para estrelar seus filmes. Em 1918, no auge de seu sucesso, ele abriu sua própria empresa cinematográfica, e, a partir daí, fazia seus próprios roteiros e dirigia seus filmes. Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade. Adepto ao cinema mudo, o também cineasta, era contra o surgimento do cinema sonoro, mas como grande artista que era, logo se adaptou e voltou a produzir verdadeiras obras primas: O Grande Ditador, Tempos Modernos e Luzes da Ribalta. Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha no período. Em 1965, publicou sua autobiografia, Minha Vida. Em 1977, na noite de Natal, o mundo perdeu um dos grandes representantes da história do cinema.

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Natal na Barca - Lygia Fagundes Teles

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Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o. rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão. — Mas de manhã é quente.Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.— Quente?— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta: — Mas a senhora mora aqui perto?— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.— Seu filho?— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.— É o caçula?Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.— E esse? Que idade tem?— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.— Seu marido está à sua espera? — Meu marido me abandonou.Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.— Há muito tempo? Que seu marido...— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.— A senhora é conformada.— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou. — Deus — repeti vagamente.— A senhora não acredita em Deus?— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão: — Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim — Estamos chegando — anunciou.Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia: - Chegamos!... Ei! chegamos! Aproximei-me evitando encará-la.— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.— Acordou?! Ela sorriu: — Veja...Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.

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Antes do Bailde Verde - Lygia Fagundes Teles

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Antes do baile verde, livro de contos de Lygia Fagundes Telles, publicado em 1970, é uma das obras mais marcantes da carreira da autora. Os contos inseridos nesta coletânea foram escritos entre 1949 e 1969. Nesse sentido, um pensamento inicial pode recair sobre o questionamento de haver ou não evolução qualitativa e conseqüente amadurecimento do autor, resultantes de vinte anos de investida criativa.Antes de serem publicados, os contos antigos foram revistos pela autora, sofrendo cortes, acréscimos, mudanças de palavras ou de expressões. De acordo com a própria Lygia, entretanto, isso não alterou a fisionomia original de cada trabalho.A maior parte das narrativas segue um mesmo padrão e os vinte anos que transcorrem entre a confecção do primeiro e do último conto que compõem a coletânea passariam despercebidos, se a data de publicação não constasse expressa no livro.Os temas são considerados o ponto forte deste trabalho de Lygia, principalmente ao se observar o período em que foi concebido. Adultério, insatisfação conjugal, desmistificação dos papéis familiares – talvez possam ser considerados temas banais, exaustivamente explorados. Entretanto, a autora abordou-os há meio século, época em que a família conjugal é o modelo dominante e que a autoridade máxima na família é conferida ao pai, o chefe da casa, “e garantida pela legislação que incentiva o moralismo tradicional, a ‘procriação’, o trabalho masculino e a dedicação da mulher ao lar”.As personagens captadas pela câmera da autora representam as famílias urbanas brasileiras de classe média alta, com aparência distinta diante da sociedade, mas com dramas e conflitos comuns a qualquer ser humano, que, na maioria das vezes, tentam esconder dentro dos armários ou debaixo dos tapetes. Dessa maneira, o perfil de uma classe sócio-econômica específica é delineado para exibir temáticas universais, os jogos de poder envolvidos nas relações entre homens e mulheres, os conflitos, os valores morais, os desequilíbrios.As personagens são construídas simultaneamente com o enredo. Os detalhes são importantes nessa composição – os gestos, a interação estabelecida com as outras personagens, as associações simbólicas empregadas pelo narrador. Praticamente em todos os contos da coletânea as personagens femininas apresentam importância crucial. São elas que assumem atitudes que desafiam as normas do comportamento adequado, ameaçam as regras sociais e reformulam os padrões de conduta, mesmo quando não estão no papel de protagonistas.A estrutura mais utilizada pela autora para a elaboração dos contos é a do diálogo entre duas personagens. Assim, apesar da força das personagens femininas: a “rainha do lar”, a “tia solteirona”, a “mulher fatal”, a “amante” –, também desfilam diante do leitor outras personagens, como o “marido ideal”, o “homem apoltronado”, o “irmão perfeito”, o “louco”, caracteres familiares, mas que trazem consigo sempre alguma surpresa. Essa galeria de tipos e os duelos que eles travam em busca da satisfação das próprias necessidades chocam-se com as expectativas dos leitores, que observam os padrões morais e sociais dominantes caírem por terra em confronto com a busca da felicidade.A narrativa de Lygia apresenta grande agilidade. A autora utiliza linguagem clara, concisa, descartando tudo o que poderia ser considerado desnecessário para a ficção. Aparentemente, tem pressa, parece não haver tempo a perder – por isso, dispensa o supérfluo. O emprego dos diálogos, por meio dos quais autor e narrador constroem as personagens, desenvolvem o enredo, transmitem as informações ao leitor, é feito de maneira primorosa e também contribui para a rapidez narrativa de Lygia.Sempre que possível, mostra os fatos ao invés de contá-los para o leitor, tirando proveito das características determinantes do modo showing de narrar, a imitação verdadeira, a mimese, as falas diretas, o modo dramático, como que propiciando que a história se conte por si mesma. Assim, na maioria dos contos, o leitor tem a sensação que o narrador se esconde e que ele, leitor, é também personagem e observa os fatos acontecerem diante dos próprios olhos.Existem momentos de ousadia e coragem, principalmente com relação à seleção de temas, mas, na maioria das vezes, Lygia Fagundes Telles pode ser classificada como prudente no ato de escrever. A autora não explora todos os artifícios narrativos que os recursos retóricos da linguagem disponibilizam. Lygia, de certo modo, limita o uso de recursos praticados na “modernidade”, ou seja, aqueles que buscam uma ruptura radical com os moldes tradicionais. Assim, ao que parece, evita experimentações. Ao invés disso, pode-se perceber no modo de narrar traços marcadamente realistas. Em suma, em Antes do Baile Verde, sugere, mas não corre riscos.Aparentemente, pela maneira como Lygia Fagundes Telles utiliza os recursos técnicos para compor os contos – a autora preocupa-se em obter verossimilhança. E isso é conseguido, principalmente, pela forma como institui o narrador em cada história. A escolha do tipo de narrador é o fator principal na determinação de como a história será contada. É por meio da posição do narrador, ou seja, do foco narrativo adotado, que o autor fará com que o leitor veja a história. Além de outras conseqüências que advirão dessa escolha, também conseguirá ou não a obtenção de verossimilhança na obra. Lygia tem habilidade suficiente para proporcionar ao leitor a visualização da trama e, ainda, para fazê-lo acreditar nos fatos narrados.São 20 histórias que evocam um clima de desencanto e dissipação.Na introdução de Antes do baile verde, a autora explora obstinadamente o desencontro das personagens, expõe a face dramática das fraquezas humanas, veda os caminhos da redenção. São trechos levam o leitor a refletir sobre as inquietações do ser humano, colocando-o frente à frente com as aflições do cotidiano, fazendo-o sofrer com o desajuste e o desamor vividos pelas personagens.São vários os contos da coletânea que tratam de temas que evidenciam o desequilíbrio, a tensão e a insatisfação do homem em suas relações, principalmente as afetivas. A solidão, o egoísmo, a infidelidade, a insatisfação no casamento, são abordados nos contos de Lygia Fagundes Telles, em situações extremamente comuns, que proporcionam certa intimidade entre personagens e leitores. Os eventos narradas e os sentimentos descritos são tão conhecidos, a linguagem empregada é tão clara, que a verossimilhança atinge grau máximo nesses contos.Uma das circunstâncias preferidas por Lygia para a construção de seus contos parece ser a do momento em que os relacionamentos amorosos chegam ao fim. O homem maduro, que substitui a esposa ou companheira – também madura – por uma mulher mais jovem, muitas vezes na tentativa de recuperar a própria juventude perdida, está presente em “A Ceia”, “A Chave” e “Um Chá Bem Forte e Três Xícaras”.Em Antes do baile verde, Lygia Fagundes Telles aborda o inexplicável em três contos: “Venha Ver o Pôr do Sol”, “A Caçada” e “Natal na Barca”.Do ponto de vista temático, apesar das intertextualidades apresentadas, nessas três narrativas citadas (“Venha Ver o Pôr do Sol”, “A Caçada” e “Natal na Barca”), Lygia consegue ser mais original do que no resto da coletânea.Aventura-se a sair do cenário urbano, com a típica família brasileira burguesa dos anos setenta, com seus conflitos a girar em torno da traição e/ou do fim de uma relação amorosa.Estruturalmente, apesar de continuar empregando o modelo básico de trechos em focalização externa intercalados com diálogos travados entre as personagens, o narrador alcança êxito com as estratégias empregadas. O narrador fornece as informações aos poucos, criando um clima de suspense e, conseqüentemente, prendendo a atenção do leitor.Seja em uma situação possível de acontecer, como em “Venha Ver o Pôr do Sol”, ou em acontecimentos surrealistas, como em “A Caçada”, o importante é que o clima de mistério é estabelecido e mantido pelo narrador, até o final.Em estilo afiadíssimo, ela povoa suas histórias com personagens oprimidos. Freqüentemente volúveis, às vezes criminosos. Nada se explica: alguns objetos ou detalhes são suficientes para marcar o clima. Pode ser uma penteadeira em desordem ou um fio de pérolas enrodilhado num bolso e as personagens começam a se questionar, raivosas, enlouquecidas de ciúmes. Algumas possibilidades surgem ameaçadoras, improváveis. E terrivelmente perturbadoras. Assim, junto com a leveza de cetins e purpurina, surge uma morte. E há a nudez de madame e seu camareiro chinês. Tiros, lutos, casamentos tardios.Estão presentes no livro algumas histórias emblemáticas como "O jardim selvagem" e "Meia-noite em ponto em Xangai".Uma jovem se prepara para ir a um baile carnavalesco onde as fantasias devem ser todas verdes. Enquanto ela se maquia para o baile, colocando lantejoulas no saiote verde que cobre o biquíni, seu pai agoniza no quarto ao lado. Esse ambiente teatral e angustiante do conto "Antes do baile verde" dá a tônica do livro homônimo.Narrativas turbulentas, de diálogos cuidadosamente esculpidos e marcadas por finais em aberto, como no conto "Natal na barca", em que uma mulher atravessa o rio com o filho no colo, sem que o leitor saiba se a criança está mesmo viva. Os finais das histórias de Lygia provocam o imaginário do leitor. Há sempre uma cartada, uma surpresa, um susto.A autora demonstra uma coragem singular para trabalhar pontos mais delicados da condição humana através de personagens cínicos, amargos e, principalmente, cruéis como no clássico conto "Apenas um saxofone", onde uma mulher pede ao amante que se mate como prova de amor.Nas páginas de Antes do baile verde, a autora propõe ao leitor participar ativamente, perseguir os rastros, preencher as lacunas, desvendar os segredos dos interstícios do texto. “É como se viessem à tona os eflúvios de uma matéria em combustão lá no fundo, e sutilmente fossem nos penetrando” (Coelho, 1993, p. 245). Pelo uso técnico da elipse e da sugestão, Lygia convida o leitor para um mergulho em sua ficção, do qual, supostamente, sairá modificado.

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Biografia de Lygia Fagundes Teles

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Quarta filha do casal Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, nasce na capital paulista, em 19 de abril de 1923, Lygia de Azevedo Fagundes, na rua Barão de Tatuí. Seu pai, advogado, exerceu os cargos de delegado e promotor público em diversas cidades do interior paulista (Sertãozinho, Apiaí, Descalvado, Areias e Itatinga), razão porque a escritora passa seus primeiros anos da infância mudando-se constantemente. Acostuma-se a ouvir histórias contadas pelas pajens e por outras crianças. Em pouco tempo, começa a criar seus próprios contos e, em 1931, já alfabetizada, escreve nas últimas páginas de seus cadernos escolares as histórias que irá contar nas rodas domésticas. Como ocorreu com todos nós, as primeiras narrativas que ouviu falavam de temas aterrorizantes, com mulas-sem-cabeça, lobisomens e tempestades.
Seu pai gostava de freqüentar casas de jogos, levando Lygia consigo "para dar sorte". Diz a escritora: "Na roleta, gostava de jogar no verde. Eu, que jogo na palavra, sempre preferi o verde, ele está em toda a minha ficção. É a cor da esperança, que aprendi com meu pai."
Em 1936 seus pais se separam, mas não se desquitam.
Porão e sobrado é o primeiro livro de contos publicado pela autora, em 138, com a edição paga por seu pai. Assina apenas como Lygia Fagundes.
No ano seguinte termina o curso fundamental no Instituto de Educação Caetano de Campos, na capital paulista. Ingressa, em 1940, na Escola Superior de Educação Física, naquela cidade. Ao mesmo tempo, freqüenta o curso pré-jurídico, preparatório para a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Inicia o curso de Direito em 1941, freqüentando as rodas literárias que se reuniam em restaurantes, cafés e livrarias próximas à faculdade. Ali conhece Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, e integra a Academia de Letras da Faculdade e colabora com os jornais Arcádia e A Balança. Para se sustentar, trabalha como assistente do Departamento Agrícola do Estado de São Paulo. Nesse ano conclui o curso de Educação Física.
Praia viva, sua segunda coletânea de contos, é editada em 1944 pela Martins, de São Paulo. O ano de 1945 marca o ano de falecimento de seu pai. Atenta aos acontecimentos políticos, Lygia participa, com colegas da Faculdade, de uma passeata contra o Estado Novo.
Terminado o curso de Direito, em 1946, só três anos depois a escritora publica, pela editora Mérito, seu terceiro livro de contos, O cacto vermelho. O volume recebe o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras.
Casa-se com o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., seu professor na Faculdade de Direito que, na ocasião,1950, era deputado federal. Muda-se, em virtude desse fato, para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal.
Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começa a escrever seu primeiro romance, Ciranda de pedra. Na fazenda Santo Antônio, em Araras - SP, de propriedade da avó de seu marido, para onde viaja constantemente, escreve várias partes desse romance. Essa fazenda ficou famosa na década de 20, pois lá reuniam-se os escritores e artistas que participaram do movimento modernista, tais como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Mafaldi e Heitor Villa-Lobos.
Maria do Rosário, sua mãe, falece em 1953 e, no ano seguinte, nasce seu único filho, Goffredo da Silva Telles Neto. As Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, lançam Ciranda de pedra.
Seu livro de contos, Histórias do desencontro, é publicado pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro, e é premiado pelo Instituto Nacional do Livro, em 1958.
Em 1960 separa-se de seu marido Goffredo e, no ano seguinte, começa a trabalhar como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.
Dois anos depois lança, pela editora Martins, de São Paulo, seu segundo romance, Verão no aquário. Passa a viver com Paulo Emílio Salles Gomes e começa a escrever o romance As meninas, inspirado no momento político por que passa o país.
Em 1964 e 1965 são publicados seus livros de contos Histórias escolhidas e O jardim selvagem, respectivamente, pela editora Martins.
A convite do cineasta Paulo César Sarraceni e em parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, em 1967, faz a adaptação para o cinema do romance D. Casmurro, de Machado de Assis. Esse trabalho foi publicado, em 1993, pela editora Siciliano, de São Paulo, sob o título de Capitu.
Seu livro de contos Antes do baile, publicado pela Bloch, do Rio de Janeiro, em 1970, recebe o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França.
O lançamento, em 1973, pela José Olympio, de seu terceiro romance, As meninas, é um sucesso. A escritora arrebata todos os prêmios literários de importância no país: o Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e o de "Ficção" da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Seminário de ratos, contos, é publicado em 1977 pela José Olympio e recebe o prêmio da categoria Pen Club do Brasil. Nesse ano participa da coletânea Missa do Galo: variações sobre o mesmo tema, livro organizado por Osman Lins a partir do conto clássico de Machado de Assis. Integra o corpo de jurados do Concurso Unibanco de Literatura, ao lado dos escritores e críticos literários Otto Lara Resende, Ignácio de Loyola Brandão, João Antônio, Antônio Houaiss e Geraldo Galvão Ferraz.
Em setembro desse ano, falece Paulo Emílio Salles Gomes. A escritora assume, face ao ocorrido, a presidência da Cinemateca Brasileira, que Paulo Emílio ajudara a fundar.
Em 1978 a editora Cultura, de São Paulo, lança Filhos pródigos. Essa coletânea de contos seria republicada a partir de 1991 sob o título A estrutura da bolha de sabão. A TV Globo leva ao ar um Caso Especial baseado no conto "O jardim selvagem".
Sua editora no período de 1980 até 1997, a Nova Fronteira, do Rio de Janeiro publica A disciplina do amor. No ano seguinte lança Mistérios, uma coletânea de contos fantásticos. A TV Globo transmite a telenovela Ciranda de pedra, adaptada de seu romance.
Em 1982 é eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32 votos a 7, é eleita, em 24 de outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Gregório de Mattos, na vaga deixada por Pedro Calmon. Sua posse só ocorre em 12 de maio de 1987. Ainda em 1985 é agraciada com a medalha da Ordem do Rio Branco.
1989 é o ano de lançamento de seu romance As horas nuas. Recebe a Comenda Portuguesa Dom Infante Santo. Em 1990 seu filho, Goffredo Neto, realiza o documentário Narrarte, sobre a vida e a obra da mãe. Em 1991 aposenta-se como funcionária pública.
A Rede Globo de Televisão apresenta, em 1993, dentro da série Retratos de mulher, a adaptação da própria escritora do seu conto "O moço do saxofone", que faz parte do livro Antes do baile verde, num episódio denominado "Era uma vez Valdete".
Participa da Feira o Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994, e lança, no ano seguinte, um novo livro de contos, A noite escura e mais eu, que ganhou os prêmios de Melhor livro de contos, concedido pela Biblioteca Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Prêmio APLUB de Literatura.
Em 1996 estréia o filme As meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado em romance homônimo de Lygia. Em 1997 participa da série O escritor por ele mesmo, do Instituto Moreira Salles. A editora Rocco adquire os direitos de publicação de toda a obra passada e futura da escritora.
Em 1998, a convite do governo francês, participa do Salão do Livro da França.
Seu livro Invenção e Memória foi agraciado com o Prêmio Jabuti, na categoria ficção, em 2001. Recebe, também, o "Golfinho de Ouro" e o Grande Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Agraciada, em março de 2001, com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB).Em 2005, recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa.
OBRAS DA AUTORA
Individuais
Contos:
Porão e sobrado, 1938Praia viva, 1944O cacto vermelho, 1949Histórias do desencontro, 1958Histórias escolhidas, 1964O jardim selvagem, 1965Antes do baile verde, 1970Seminário dos ratos, 1977Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A estrutura da bolha de sabão, 1991)A disciplina do amor, 1980Mistérios, 1981A noite escura e mais eu, 1995Venha ver o por do solOito contos de amorInvenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti)Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002Meus contos preferidos, 2004Histórias de mistério, 2004Meus contos esquecidos, 2005Romances:
Ciranda de pedra, 1954Verão no aquário, 1963As meninas, 1973As horas nuas, 1989
Antologias:
Seleta, 1971 (organização, estudos e notas de Nelly Novaes Coelho)Lygia Fagundes Telles, 1980 (organização de Leonardo Monteiro)Os melhores contos de Lygia F. Telles, 1984 (seleção de Eduardo Portella)Venha ver o pôr-do-sol, 1988 (seleção dos editores - Ática)A confissão de Leontina e fragmentos, 1996 (seleção de Maura Sardinha)Oito contos de amor, 1997 (seleção de Pedro Paulo de Sena Madureira)Pomba enamorada, 1999 (seleção de Léa Masima).
Participações em coletâneas:
Gaby, 1964 (novela - in Os sete pecados capitais - Civilização Brasileira)Trilogia da confissão, 1968 (Verde lagarto amarelo, Apenas um saxofone e Helga - in Os 18 melhores contos do Brasil - Bloch Editores)Missa do galo, 1977 (in Missa do galo: variações sobre o mesmo tema - Summus)O muro, 1978 (in Lições de casa - exercícios de imaginação - Cultura)As formigas, 1978 (in O conto da mulher brasileira - Vertente)Pomba enamorada, 1979 (in O papel do amor - Cultura)Negra jogada amarela, 1979 (conto infanto-juvenil - in Criança brinca, não brinca? - Cultura)As cerejas, 1993 (in As cerejas - Atual)A caçada, 1994 (in Contos brasileiros contemporâneos - Moderna)A estrutura da bolha de sabão e As cerejas, s.d. (in O conto brasileiro contemporâneo - Cultrix)
Crônicas publicadas na imprensa:
Não vou ceder. Até quando?. O Estado de São Paulo - 06-01-92Pindura com um anjo. Jornal da Tarde - 11-08-96
Traduções:
Para o alemão:- Filhos pródigos, 1983- As horas nuas, 1994- Missa do galo, 1994Para o espanhol:- As meninas, 1973- As horas nuas, 1991Para o francês:- Filhos pródigos, 1986- Antes do baile verde, 1989- As horas nuas, 1996- W. M., 1991- Invenção e Memória, 2003
Para o inglês:- As meninas, 1982- Seminário dos ratos, 1986- Ciranda de pedra, 1986Para o italiano:- As pérolas, 1961- As horas nuas, 1993
Para o polonês:- A chave, 1977- Ciranda de pedra, 1990 (traduzido também para o chinês e espanhol).
Para o sueco:- As horas nuas, 1991
Para o tcheco:
- Antes do baile verde, s.d. (traduzido também para russo)
Edições em Portugal:
- Antes do baile verde, 1971- A disciplina do amor, 1980- A noite escura e mais eu, 1996- As meninas, s.d.
Para o cinema:
- Capitu (roteiro); parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, 1993 (Siciliano).- As meninas (adaptação), 1996
Para o teatro:
As meninas, 1988 e 1998Para a televisão:
- O jardim selvagem, 1978 (Caso especial - TV Globo)- Ciranda de pedra, 1981 (Novela - TV Globo)- Era uma vez Valdete, 1993 (Retratos de mulher - TV Globo)
PRÊMIOS:
Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958) Prêmio Guimarães Rosa (1972) Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973) Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1980) Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989)Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro Prêmio APLUB de LiteraturaPrêmio Jabuti (Ficção) (2001)Prêmio Camões (2005

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Conceito de Literatura

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Sabemos que o reino das palavras é farto. Elas brotam de nosso pensamento de maneira natural, não temos a preocupação de elaborar o que dizemos ou até mesmo escrevemos. As palavras, contudo, podem ultrapassar seus limites de significação. Podendo assim, conquistar novos espaços e passar novas possibilidades de perceber a realidade. O caminho que a literatura percorre é este. O artista sente, escolhe e manipula as palavras, as organiza para que produzam um efeito que vá além da sua significação objetiva, procurando aproxima-las do imaginário. A obra do escritor é fruto de sua imaginação, embora seja baseado em elementos reais. Da concretização desse trabalho surge então a obra literária. Dotado de uma percepção aguçada, o escritor capta a realidade através de seus sentimentos. Explora as possibilidades lingüísticas e as manipula no nível semântico, fonético e sintático. A literatura é uma manifestação artística. E difere das demais pela maneira como se expressa, sua matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário se caracteriza pelo predomínio da função poética. Observe, no poema Procura da poesia, como o poeta Carlos Drummond de Andrade descreve o escritor entrando no “reino das palavras”. Procura da poesia Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto. Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças. Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável. Não recomponhas tua sepultada e merencória infância. Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era. Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície inata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

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Biografia de Ariano Vilar Suassuna

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Romancista e teatrólogo, Ariano Suassuna nasceu a 16/06/1927, na então cidade da Paraíba, atualmente denominada João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. Filho de João Suassuna (governador da Paraíba entre 1924/28), viveu o ano de 1929, com a família, na Fazenda Acauhan, no sertão do Estado. Em 1930, quando episódios políticos resultaram na morte do governador João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (assassinado por João Dantas que era primo da mãe de Ariano), ele teve que abandonar, com a família, a Paraíba e foi morar no município de Paulista, PE. Na cidade de Paulista, os Suassuna tomaram conhecimento do assassinato (no Rio de Janeiro, a 09/10/1930) de João Suassuna (como represália à morte de João Pessoa) e o órfão Ariano retomou, com a família, a peregrinação, fugindo dos conflitos políticos: voltou à Fazenda Acauhan e, em 1932, foi morar na Fazenda Saco, também sertão paraibano. Em 1933, mais uma correria: vai, com a família, morar no município de Taperoá, interior paraibano. Adolescente, em 1942 Ariano Suassuna muda-se para o Recife, onde passaria o residir definitivamente. Foi no Recife que Ariano conclui o curso ginasial (Colégio Americano Batista) e o colegial (Ginásio Pernambucano e Colégio Oswaldo Cruz) e formou-se em Direito (1950) e em Filosofia (1960). Iniciou a carreira literária escrevendo poesias aos 16 anos de idade. Em 1950, contraiu tuberculose e ficou dois anos acamado; quando recuperou a saúde, tentou seguir a carreira de advogado mas, não obtendo sucesso, tornou-se diretor do Teatro do SESI. Em 1956 assumiu a cadeira de professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Publicou sua primeira peça teatral ("Uma Mulher Vestida de Sol") em 1947. Outras peças de teatro: "Cantam as Harpas de Sião" (1948, reescrita sob o título "O Desertar de Princesas"); "Auto de João da Cruz" (1950); "Auto da Compadecida" (1955); "O Santo e a Porca - O Casamento Suspeitoso" (1957); "A Pena e a Lei" (1959); "A Farsa da Boa Preguiça" (1960); "A Caseira e a Catarina" (1961). Com o romance "A Pedra do Reino" (1971) conquistou o Prêmio Nacional de Ficção, do Instituto Nacional do Livro. Foi, também, diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco; secretário de Educação e Cultura da prefeitura do Recife e membro do Conselho Federal de Cultura. Com outros intelectuais, fundou o Teatro Popular do Nordeste (TPN) e o Movimento de Cultura Popular (MCP) ambos no Recife. Em 1970, foi o idealizador do Movimento Armorial, criado no Recife com a proposta de "realizar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura". Foi Secretário de Cultura de Pernambuco durante o terceiro governo de Miguel Arraes, 1995/98.

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Biografia de Tom Zé

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Compositor, cantor, arranjador e ator nascido em Irará (BA), Tom Zé é uma das figuras mais originais e controvertidas da MPB. Aprendeu a gostar de música ouvindo rádio em sua cidade natal a ponto de decidir estudar música na Universidade da Bahia, em Salvador. Lá teve aula com Koellreuter, Smetak e Ernst Widmer, e aprendeu harmonia, contraponto, composição, piano, violoncelo. No começo da década de 60 conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, com quem montou um grupo para os espetáculos "Nós, Por Exemplo" e "Velha Bossa Nova e Nova Bossa Velha". Com esse grupo foi para São Paulo, onde participou do espetáculo "Arena Canta Bahia" e do disco-chave para o movimento tropicalista, "Tropicália ou Panis et Circensis", lançado pela Philips em 1968 e que continha sua composição "Parque Industrial". No mesmo ano conseguiu o primeiro lugar no Festival de MPB com "São São Paulo, Meu Amor" e apareceu seu primeiro LP individual, "Tom Zé", seguido por outros discos na década de 70. Seu álbum "Todos os Olhos", de 1973, foi considerado inovador demais, e não teve boa aceitação, afastando Tom Zé da mídia brasileira, a despeito do imenso sucesso de seus conterrâneos. Gravou outros discos de menos sucesso, como "Correio da Estação do Brás" (1978) e "Nave Maria" (1984). No fim da década de 80 sua carreira deu uma reviravolta quando o músico David Byrne descobriu num sebo o inovador "Estudando o Samba", LP em que Tom Zé (com parceiros como Elton Medeiros) mexe nas estruturas do principal gênero musical do país. Fascinado, Byrne lançou o compositor no mercado internacional por meio de seu recém-criado selo, Luaka Bop. O disco "The Best of Tom Zé", editado por Byrne em 1990 foi aclamado pela crítica, ficando entre os dez melhores da década em todo o mundo, na avaliação da revistas Rolling Stone. Excursionou pela Europa e Estados Unidos durante a década de 90, com bastante sucesso, o que só se refletiu no Brasil em 1999, com o lançamento de seu CD "Com Defeito de Fabricação" no Brasil. A partir daí Tom Zé voltou ao cenário da música brasileira. Entre suas músicas destacam-se "Mã", "Um 'Oh!' e um 'Ah!'", "Nave Maria", "Cademar" (com Augusto de Campos), "Xiquexique" (com José Miguel Wisnik).

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Racismo em filme (Juliana Danielle)

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Este texto foi encontrado no Blog do Ferréz, e uma mulher manda um texto sobre uma tarde no cinema, onde ela vê um filme "racista":

Ferréz,
Infelizmente hoje eu e meu namorado perdemos duas horas preciosas de nossas vidas e ainda perdemos R$20 indo ao cinema assistir ao "filme" (se é que se pode chamar assim uma coisa tão ridícula) "Trovão Tropical". Antes de sair de casa, eu já previa: "Mais um besteirol americano....", mas enfim, ele queria ver, então fomos.
Não sei se é porque as pessoas já vão sabendo que é uma comédia e assim já vão predispostar a dar risada ou se elas realmente dão risada por qualquer coisa, mas o filme era tão bobo que eu não consegui rir em nenhum momento, mas os outros ao meu redor forçavam suas gargalhadas num esforço para fazer valer seus R$10 e sua tarde de segunda-feira.
Enfim, quando eu já tinha desistido de tentar achar algo engraçado, foi que veio a pérola: uma das personagens, é um homem branco que fez uma cirurgia para ficar com a pele da mesma cor de um afro-desccendente para poder interpretar um papel em outro filme. Então ele começa a tentar falar e agir como os afro-americanos, o que acaba irritando o afro-americano do elenco, que chama aquele ator de "negro". Este, então, fica mais bravo ainda e o agarra, dizendo que ele não deveria usar aquela palavra que "os" oprimiu durante tantos anos.
Depois desta cena, não sei o que aconteceu. Minha primeira reação foi levantar, gritar pra todo mundo que esse filme é ridículo, racista e preconceituoso, que todos que estavam rindo da cena eram um bando de babacas e então sair do cinema, mas meu namorado não quis sair (só pra constar, eu sou "branca" e ele é afro-descendente). Então tive que esperar a porcaria do "filme" acabar. No entanto, virei de costas, pois não tinha mais estômago pra ver tanta bobagem.
Enfim, estou mandando este e-mail, pois eu não poderia fazer muita coisa quanto à isso, mas a primeira pessoa que veio à minha cabeça que pode fazer com que isso se torne público foi você. Já ví no seu site você falando de filmes racistas, então indico mais este para a extensa lista.
Por enquanto é só.

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